martes, 26 de febrero de 2008

A relação entre a comunicação e a governabilidade na América Latina

(Entrevista especial com Orlando Villalobos)
“As mudanças e o desejo de ampliar setores da população para favorecer a inclusão social encontram uma barreira nos meios, que seguem olhando para trás”, é o que acredita o professor venezuelano Orlando Villalobos. Na entrevista que segue, realizada através do Windows Live Messenger, Villalobos falou sobre a comunicação e sua influência na sociedade latino-americana. “Sabemos que em muitos países da América Latina é um risco o exercício do jornalismo, porque os fatores do governo são muito sensíveis à crítica e à denúncia. Isso faz parte de uma tradição não afortunada. Está relacionada com esse nosso passado de ditaduras e proibições. Agora é necessário ser diferente”, afirmou.
Orlando Villalobos é professor da Universidad Del Zulía, da Venezuela, e atua, também, como jornalista. Em março será lançado o livro Comunicação e governabilidade na América Latina (São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2008), baseado nas discussões realizadas no VIII Congresso Latino-Americano de Pesquisadores em Comunicação de 2006, no qual Orlando publicou o artigo Comunicación, democracía y gobernalidad en Venezuela.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual é o impacto da comunicação no tecido social que constitui a América Latina, em sua opinião?
Orlando Villalobos – A comunicação representa um campo útil e imprescindível para gerar um tecido social equilibrado, que se traduz em paz, justiça social, democracia, pluralidade e liberdade. Isso se pode fazer sempre que a comunicação signifique: a) disposição para dialogar com distintas correntes de pensamento e de pontos de vista; b) compromisso com a busca pela verdade, onde quer que se encontre; c) vontade de superar o sentido comum, que se refugia na explicação simples e que desconhece que os problemas contemporâneos têm explicações complexas. Além disso, deve traduzir um jornalismo que propicie o exercício democrático da comunicação. Mas, com freqüência, encontramos distorções e práticas perversas, alheias à ética e a um desempenho profissional que se corresponda com um propósito democrático. Esse fenômeno tem sido descrito por alguns autores como mediocracia (predomínio social da classe média; sistema político ou social em que a administração e a autoridade são exercidos pela classe média). Consiste em que se outorga um poder exagerado ao exercício e se utiliza essa tribuna para impor interesses particulares, de elites políticas e econômicas.
IHU On-Line – Para o senhor, como os meios de comunicação comunitários podem ajudar para a democratização do espaço comunicacional na América Latina?
Orlando Villalobos – Os meios massivos favorecem o desenvolvimento e aprofundamento da corrente democratizadora na América Latina. Ainda que lamentavelmente nem sempre aconteça. Com freqüência, os meios defendem posturas abertamente conservadoras e querem ocultar as manifestações de mudança social e político. Isso se observa em países como Venezuela, Equador e Bolívia, onde tem acontecido uma mudança na correlação de forças políticas, demonstrada em diferentes processos eleitorais.
Paradoxalmente, as mudanças e o desejo de ampliar setores da população para favorecer a inclusão social encontram uma barreira nos meios, que seguem olhando para trás. Trago uma comentário. Na América Latina, presenciamos a confluência de três campos da comunicação massiva: a) os meios privados, que dominam amplamente. Ali estão as grandes cadeias de televisão e os meios com mais cobertura; b) no entanto, agora surgem meios estáveis, que antes haviam sido quase apagados. Na década de 1990, o neoliberalismo diminuiu o poder dos meios públicos que quase desapareceram. Agora estão ressurgindo; c) há uma novidade, o surgimento de um amplo movimento de comunicação comunitária. São televisões, estações de rádio e meios impressos, que expõem um ponto de vista diferente, vindo da comunidade, o que reflete um mundo midiático diferente.
IHU On-Line – Que reflexão o senhor faz sobre as possibilidades contra a hegemonia das grandes empresas de comunicação?
Orlando Villalobos – Justamente, trata-se disso: de favorecer o desenvolvimento de uma corrente contra-hegemônica ou contracultural a partir do Estado, mas nem sempre a partir dele. O contra-hegemônico poderá expressar-se e desenvolver-se se vem do mundo comunitário, se expressa o sentimento e a forma de ser de amplas camadas da população que têm sido excluídas dos centros de decisão e que inclusive estão colocadas à margem dos níveis mínimos necessários para que as condições da vida sejam adequadas. A América Latina tem dois problemas severos: a pobreza e a desigualdade social. Por isso, urge que haja comunicação que pensa e atue de outro modo. Desde a comunicação, precisamos favorecer que haja uma convivência diferente, para superar o paradigma que privilegia os macro-sujeitos e se concentre neles a possibilidade de decidir, em nome do Estado, do partido, da ideologia, da religião, da indústria, enfim, num pensamento que imponha uma determinada verdade e no qual predomina a imposição, não o acordo.
IHU On-Line – Os meios de comunicação podem ser utilizados como um controlador social?
Orlando Villalobos – De muitas maneiras, os meios atuam para gerar controle social. Mas o ponto é sim favorecer as formas democráticas e plurais. Os meios atuam para manter um controle hegemônico que impõe formas de consumo que não beneficiam a maioria e terminam propiciando mais conflitos e menos um tecido social virtuoso, que se traduz em equilíbrios sociais.
"os meios atuam para
gerar controle social"
IHU On-Line – Em relação às complexidades do acesso e limitações da participação cidadã, como podemos democratizar as políticas de comunicação?
Orlando Villalobos – Para favorecer a participação cidadã, é recomendável que se atue em diferentes direções. Aponto as seguintes: a primeira é ajudando para que as organizações e correntes populares se manifestem no mundo do jornalismo e da comunicação, facilitando que haja meios e canais que mostrem esse mundo, suas demandas, suas expectativas; a segunda é estabelecendo regras, normas ou acordos que tragam um possível exercício midiático apegado à responsabilidade social. Neste momento, os meios criticam e avaliam, mas quem avalia os meios? O povo vota e elege os governantes, mas quem opina ou decide sobre a programação que se põe nas telas? É preciso estabelecer formas de regulação. É um direito da audiência. Isso significa que é necessário fazer explícitos os direitos comunicacionais. Em terceiro lugar, esta é a responsabilidade do Estado que necessita propiciar que haja uma comunicação de serviço público, o que na América Latina quase não existe, ou seja, não temos essa tradição. Os meios de propriedade do Estado servem ao governo de cada momento, incluindo os partidos do governo. Isso tem de mudar. É preciso haver uma distinção entre o governo e o Estado. Se os meios são do Estado, eles deveriam servir a todos os cidadãos, e não a grupos políticos que estão no governo.
IHU On-Line – E como o senhor analisa o controle público de comunicação?
Orlando Villalobos – Precisamos evitar as fórmulas autoritárias, vencer a tentação autoritária. Sabemos que em muitos países da América Latina é um risco o exercício do jornalismo, porque os fatores do governo são muito sensíveis à crítica e à denúncia. Isso faz parte de uma tradição não afortunada. Está relacionada a esse nosso passado de ditaduras e proibições. Agora precisaria ser diferente. Como fazer? Com regras claras. Implica em leis e acordos. Significa que os direitos comunicacionais precisam fazer isso explicitamente, claramente.
Significa que se pode opinar e que isso nunca signifique um delito. Significa que ninguém pode ser discriminado por suas opiniões, que há direito a réplica e que se facilita o acesso ao diálogo público. Para conseguir isso, precisa vencer a situação de que a comunicação massiva é um privilégio de poucos canais e grandes cadeias de meios. Não sou pessimista, ou seja, em meio de grandes contradições, estamos avançando. Do meu ponto de vista, estamos melhor do que na década de 1990, embora não estejamos ainda no paraíso das comunicações.
IHU On-Line – Você acredita que a população latino-americana está preparada para receber as novas tecnologias digitais quando ainda vive situações políticas e sociais tão adversas?
Orlando Villalobos – Esse é o ponto. Para obtermos democracia comunicacional, a América Latina precisa dar um salto qualitativo, começando a aplicar políticas públicas que permitam superar a pobreza, vencer os níveis de desigualdade, democratizar as formas de propriedade sobre os meios massivos. Aí se concentra a utopia que precisamos perseguir. Neste momento, em matéria de tecnologias digitais, temos avançado. Há mais internautas, porém ainda falta muito. A brecha digital que existe torna tudo uma tremenda dificuldade. A diferença entre uma criança pobre e uma criança de um nível social com melhores condições de vida é que o primeiro não conhece, nem nunca tocou num computador.
Para construir cidadania, precisamos avançar na direção de que as escolas públicas, as únicas a que os pobres têm acesso, sejam dotadas com tecnologias atuais. Não convém a todos que essa brecha digital comece a ser superada, para que tenhamos equilíbrio e justiça, para estender laços do tecido social e termos uma democracia. Quando isso se interrompe, surgem as contradições e se faz combustível para a cadeia do conflito social. Sejamos claros: o analfabetismo, o desemprego e a carência dos serviços públicos geram criminalidade, conflito e problemas sociais. O contrário disso é favorecer que haja políticas públicas de comunicação que permitam construir cidadania, a partir do reconhecimento dos direitos comunicacionais do coletivo.

jueves, 7 de febrero de 2008

Ciudadano del siglo XXI

(Orlando Villalobos) La aspiración de conseguir justicia social, equidad y democracia está asociada a la posibilidad, real y efectiva, de construir ciudadanía. Por tanto, ésta es la palabra clave de esta época.
Pero, la ciudadanía no es un asunto formal, abstracto. No es una condición que se define sólo por la ubicación en un espacio geográfico y el reconocimiento de derechos políticos y civiles. La idea de que “todos somos iguales ante la ley” es lógica y coherente, pero en el fondo tramposa. En la vida real, unos pueden hacer uso de deberes y derechos y otros son excluidos y marginados. En los hechos es que se determina si se es ciudadano o no.
No hay un ciudadano único, universal. Eso se dice con fines ideológicos o de propaganda. Hay muchos tipos de ciudadanía. Por ejemplo, las comunidades indígenas, los niños, niñas y adolescentes; los analfabetas, los desempleados, los discapacitados, cada uno de estos grupos representan un tipo de ciudadanía y una sociedad de ciudadanos deberá reconocerlo explícitamente.
No se puede ser ciudadano siendo sólo un receptor pasivo del mensaje todopoderoso de los medios masivos de información y entretenimiento. Si no hay acceso a la información, por responsabilidad de los medios, se niega la ciudadanía. Si el Estado oculta los datos y las fuentes, se niega la ciudadanía.
No es cierto tampoco que ciudadanos y consumidores sean sinónimos, o que el ciudadano se define por su acceso al consumo.
En fin, debatir las claves de la ciudadanía resulta indispensable para aspirar a escenarios diferentes, que sean sinónimos de democracia y justicia social, para que las personas puedan acceder a una relación armónica de deberes y derechos; para superar la situación actual de una parte de la población excluida y sin derechos; para que se borre esa creencia de que alguien es ciudadano porque de tiempo en tiempo va a depositar un voto.
La insistencia del presidente Chávez de debatir sobre el socialismo no puede obviar la idea que se tiene de ciudadanía, ni mucho menos puede llevar a afirmaciones ligeras que suponen que ya esto es el socialismo o algo parecido.
Sin ciudadanos de verdad, no hay democracia. Sin ciudadanos con derechos efectivos el cambio social es una ilusión vana.

domingo, 3 de febrero de 2008

LUZ(c)es y sombras

(Orlando Villalobos Finol)
Esta era de rápidas transiciones plantea a la universidad la exigencia de que se revise, se piense y se evalúe. Ahora andamos sobre los lomos de otro tren. La globalización e Internet marcan la pauta. Se reclama mayor flexibilidad y diálogo. La pátina del tiempo marchitó los viejos liderazgos y ya no alcanza con creer que "en todo conuco viejo siempre quedan batatas".
Ya no resulta suficiente con decir que la universidad es heredera del saber, con citar al maestro Lossada en cada discurso de ocasión o con proclamar que ésta es "la casa que vence las sombras", como se hace en pagos caraqueños.
Muchas interrogantes se le hacen a la universidad. Se le piden pruebas y cuentas, sobre todo ahora en estos tiempos de trasición y de cambio.
Por momentos, la universidad luce desbordada. Cuando una autoridad universitaria comparece en un programa de opinión es virtualmente acosada. Se multiplican las dudas y los reclamos, y unos cuantos mitos salen a relucir. Algunas voces agoreras y resentidas, incluso, machacan el argumento de unos supuestos privilegiados salarios universitarios. Muchas veces, yo me quedo esperando la respuesta contundente, que derrote la suspicacia y coloque a la ignorancia en su santo lugar. Caramba, pero no llega. Como dijo Cabrujas, uno está esperando un jonrón y lo que sale es un roling al cuadro.
A la universidad pública, la única que tienen la mayoría de los bachilleres que vienen de los barrios, pueblos y caseríos, le fallan sus mecanismos para comunicarse. Por eso tiene limitaciones para explicarse, le cuesta vencer las barreras para establecer alianzas con el sector productivo, no sabe cómo decir que en sus predios se cultivan decenas de investigaciones de primera prioridad, no puede comunicar que su tarea de extensión abarca una labor comunitaria, que se materializa en servicios médicos, odontológicos, de arquitectura; no encuentra la manera de motivar a su comunidad.
En resumen, la universidad -y LUZ lo sabe-, padece de un mal: el déficit informativo. En sus propios medios le facilita el centimetraje y le concede la audiencia al relato de gestión. Se cree demasiado en las bondades del "boletín de prensa". Se conforma con el discurso oficial y no se detiene, en detalle, en lo que el resto de la universidad hace, investiga y propone. Para decirlo con una fórmula que puede lucir pedante, en el área de comunicación no se trabaja para crear el feed back necesario, que haga posible la creación y construcción de la interrelación social.
Surge entonces un problema nada desdeñable, en la medida que la universidad no proyecta, con solvencia, una imagen que resuma sus realizaciones y potencialidades, deja en manos de otros la percepción que se pueda ofrecer, en cada momento, de su actuación y de su problemática educativa. Y no siempre esta percepción es benévola. Con exagerada recurrencia, se hace referencia a la universidad como una institución agobiada por las dificultades. Se resaltan sus dificultades y se opacan sus logros. Se pretende obviar que la universidad es una manera de ser y una propuesta de país, y no simplemente una fábrica de profesionales.
Hay que entenderlo, ésta es una época complicada preñada de retos y sobre todo de amenazas. Por eso hay que apelar a todo lo que se sabe hacer y a todo lo que se puede hacer, desde la comunicación, y desde luego desde otros ámbitos, para que ese recinto de esperanzas que es la universidad no se deje arrastrar por las olas del conformismo y siga siendo "un arma cargada de futuro", como diría el poeta.